Para mimetizar o processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos dentro de uma indústria farmacêutica, pesquisadores da Coppe e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da UFRJ, desenvolveram um jogo educacional de tabuleiro batizado de Screener. Com ele é possível compreender todo processo de introdução de um novo fármaco no mercado, desde a validação de um alvo até o registro do novo medicamento junto à agência reguladora, a exemplo da Anvisa. O objetivo do jogo, que inclui um livro sobre o assunto, é propiciar um aprendizado lúdico e interativo sobre o longo e custoso processo que leva à comercialização de novos medicamentos, com ênfase nas diferentes etapas da fase de descoberta e desenvolvimento pré-clínico.

O lançamento oficial do Screener, cuja produção contou com apoio de Farmanguinhos/Fiocruz e do CNPq, foi realizado no dia 17 de novembro, durante o congresso anual da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE). Na ocasião, entrou no ar o site específico do jogo, onde estão disponíveis mais informações: http://screener.com.br.

Criado pelos pesquisadores do Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes) da Coppe, o Screener foi idealizado para que possa ser jogado de forma individual, como autoaprendizagem, ou com a ajuda de um monitor para auxiliar seis jogadores ou equipes. O professor do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (Pesc) da Coppe Geraldo Xexéo (PESC), coordenador do Ludes, explica que, ao final do jogo, se espera que os participantes tenham aprendido as 29 tarefas a serem executadas, organizadas em sete etapas que constituem as fases de descoberta e desenvolvimento de fármacos, dentro do quadro regulatório. As tarefas são categorizadas, também, em quatro grandes áreas, no caso Eficácia, Segurança, Farmacocinética e Farmacotécnica. Todo este trabalho contou com significativa contribuições dos integrantes do Ludes: Eduardo Mangeli (doutorando do PESC), Joshua Kritz (mestre pelo PESC) e Pedro Nascimento (aluno de Ciência da Computação).

“No final, esperamos que os jogadores tenham aprendido ou aperfeiçoado seus conhecimentos tanto quanto aos aspectos práticos do processo, como quanto à terminologia empregada nesta área multidisciplinar”, diz Xexéo.

O conteúdo científico incorporado ao Screener foi estruturado pelo professor François Noël, do Programa de Pós-graduação em Farmacologia e Química Medicinal, do ICB/UFRJ. A principal função do jogo é atender aos alunos de pós-graduação que atuam nas áreas de farmacologia e química medicinal/farmacêutica. Ele foi criado para ser usado durante disciplinas sobre o tema, e testado em uma cadeira ministrada pelo próprio professor François. O jogo pode também ser bastante útil para todos os profissionais envolvidos em alguma etapa do processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos, assim como para alunos de graduação que se interessam pela área e pretendam ingressar num curso de pós-graduação, ou mesmo pleitear uma vaga na indústria farmacêutica, no INPI ou na Anvisa, por exemplo.

François Noël explica que o processo para se obter a aprovação de um novo medicamento por uma agência reguladora é demorado e caro, já que leva, em média, de onze a 13 anos e seu custo pode variar de 0,9 a 1,8 bilhões de dólares. Além disso, de acordo com o professor do ICB/UFRJ, a probabilidade de sucesso é considerada muito pequena. Este processo pode ser didaticamente dividido em duas fases – uma de descoberta e outra de desenvolvimento – claramente separadas pela eleição do candidato a fármaco, para o qual é solicitada uma autorização para iniciar os estudos clínicos junto à agência reguladora.

No início do jogo, que tem grande apelo visual, cada jogador recebe uma carta de poder, assim como notas de dinheiro para comprar as cartas de tarefas e pagar multas por eventuais reveses. “No decorrer da partida, além de ir passando pelos passos do processo, há circunstâncias nas quais o jogador tem que pegar uma carta, a qual pode ser favorável, que é a carta de bônus; desfavorável, a carta de revés; ou simplesmente neutra. Todas as cartas apresentam um código QR que permite acesso a textos explicativos, e as palavras destacadas são termos técnicos cuja descrição é acessível por toque na tela do celular, ou no glossário do livro do Screener”, explica Geraldo Xexéo, acrescentando que a arte do material foi elaborada com cuidado, levando em conta a representatividade de mulheres e minorias na Ciência. A concepção gráfica e artística de todos os elementos do jogo foi realizada pela aluna de Iniciação Científica, Aimêe Mothé, da Escola de Belas Artes da UFRJ.

A reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, destaca, no prefácio do livro, que “o projeto tem excelente organização e agregou com muito sucesso e de maneira multidisciplinar, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação de quatro centros da UFRJ: Centro de Ciências da Saúde, Centro de Letras e Artes; Centro de Tecnologia e Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Ressalta ainda que Screener é um jogo educativo de extrema relevância, especialmente para o nosso país que ainda está muito atrasado na área de desenvolvimento de fármacos. “No caso do jogo Screener, todos os jogadores são ganhadores, não há perdedores reais, porque a aquisição de conhecimento que está prevista durante o jogo terá sempre alto valor educativo”.

 

 

 Matéria originalmente publicada no "Planeta COPPE".