Foi tornado público ontem o maior estudo populacional já feito para a Covid-19. Esse estudo, realizado pelo governo da Espanha, utilizou uma amostra, estatisticamente selecionada, de pouco mais de 60.000 pessoas. Pelo tamanho muito grande da amostra trata-se de um enorme estudo longitudinal. O objetivo é, a partir desta amostra, estimar a prevalência na população espanhola. Foram colhidas três amostras independentes de cada um dos participantes com o objetivo de verificar a existência de anticorpos para o vírus da Covid-19.

Infelizmente os resultados são muito preocupantes, para não dizer totalmente desanimadores. A prevalência estimada de anticorpos IgG é de 5% com um intervalo de confiança de 4.7 a 5.4. Portanto a parcela da população que possui imunidade é muito pequena e 95% dos espanhóis continuam suscetíveis à doença. Isso quer dizer que podemos esquecer completamente a possibilidade de conseguir imunidade de rebanho como consequência da onda da doença. Na imunidade de rebanho o número de pessoas que pode se infectar é pequena o suficiente para que o vírus tenha dificuldade de circular. Classicamente, se considera que existe essa imunidade a partir de 60 ou 70% da população imunizada. A conclusão clara é que a única solução será mesmo investir em cuidados de distanciamento social até que chegue a vacina.

No Brasil, que está, pela desorientação central, fazendo um LockDown a meia bomba, são 2 os caminhos possíveis: 
1)- Endurecer esse isolamento o mais rapidamente possível e torna-lo mais inteligente, para que possa ser duradouro; ou 
2)- Conviver por MUITO TEMPO com taxas de 1.000 a 2.000 mortes por dia. Muito tempo podem ser meses, vários meses. Essas taxas de mortalidade significam um Maracanã lotado de mortos a cada 2 meses, ou menos tempo.

O estudo espanhol demonstrou que a mortalidade é 1,1 % (no Brasil deve ser um pouco menor pela distribuição etária da população, mais jovem que a espanhola). Importante ter atenção que a estimativa é de 1,1% do total de infectados, e não dos casos testados, divulgados pela imprensa, para os quais a maioria fez o teste por ocorrência de sintomas. Fazendo uma conta rápida, se o vírus contaminar a 20% da população, morrerá 0.2% da população brasileira, cerca de 450 mil pessoas. Isso, importante que se diga, sem levar em conta todas as outras mortes ocorridas como consequência de um sistema de saúde saturado. No momento não tem UTI pra enfartados, não tem cirurgias oncológicas, não tem exames preventivos etc, etc.

Diante desse quadro, apoiado em base cientifica sólida, não há dúvidas que o ensino a distância e o trabalho remoto vieram para ficar por muito tempo, não será apenas uma solução temporária de curto prazo. E claro, sem um comando central que permita por exemplo uma campanha cientificamente estruturada de esclarecimento para a população, apesar dos esforços capilares e distribuídos de governadores, prefeitos e da sociedade civil, esse processo poderá ser muito mais longo e muito mais doloroso. Até esse momento, a luz no fim do túnel é do trem que vem em sentido contrário.

Carlos Eduardo Pedreira

 

Clique aqui para ver o estudo publicado.

 

 

 

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